Morrer de corpo e alma.
Completamente.
Morrer sem deixar o triste despôjo da carne,
A exangue máscara de cêra
Cercada de flôres
Que apodrecerão -- felizes! -- num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade de que do espanto da morte,
Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu.
Mas que céu pode satisfazer teu sonho do céu?
Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.
Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?"
Morrer mais completamente ainda
-Sem deixar sequer êsse nome.
(Manuel Bandeira)
Grega
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