sábado, 30 de julho de 2011
Soneto do amigo
Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.
É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.
Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.
O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...
Vinicius de Moraes
segunda-feira, 25 de julho de 2011
Poema aos Escritores Retos
Parabéns a todos os escritores
pelo dia de hoje!!!!
"Nunca conheci escritor confessadamente ruim.
Todos os meus conhecidos têm sido brilhantes em tudo.
E eu, tantas vezes preguiçoso, tantas vezes mal articulado,
Eu tantas vezes irrespondivelmente solitário,
Indesculpavelmente arrogante,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para puxar sacos,
Eu, que tenho sido invisível aos resenhistas de suplemento,
Eu, que tenho sentido os olhares superiores dos publicados,
Eu, que tenho feito vergonhas literárias, conjugado sem concordar,
Eu, que, quando a hora do debate surgiu, me tenho afastado
Para fora da possibilidade da porrada;
Eu, que tenho sofrido a angústia dos pequenos contos ridículos,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo literário.
Todo escritor que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um conto ruim, nunca sofreu de crônica apressada,
Nunca foi senão Shakespeare - todos eles Shakespeares - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não uma perseguição editorial, mas um fracasso próprio;
Que contasse, não uma rejeição injusta, mas uma merecida!
Não, são todos o Ideal, se os leio e de si falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez escreveu mal?
Ó Machados, meus irmãos,
Arre, estou farto de gênios da humanidade!
Onde é que há escritores medíocres no mundo?
Então só eu sou imaturo e despreparado nesta terra?
Poderão os editores não os terem publicado,
Podem ter sido rejeitados - mas por serem ruins nunca!
E eu, que tenho sido ignorado por justo merecimento,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido ruim, literalmente ruim,
Ruim, no sentido mesquinho e infame da ruindade literária".
Alex Castro
domingo, 17 de julho de 2011
Nasci assim...
Nasci com metas difusas
na tarde, amanhecidas,
em horizontes privisórios.
Pensar, pouco soube e, ao dizer,
maximizar resultados
em prol do prolixo do amor.
Mas haja vista, uma pista:
sei tabuada cantada
e da charge na revista.
Minhas ilusôes confusas
em roca de troça, tecidas,
são fios aleatórios
sílabas, vogais, fonemas,
onomatopaicos dilemas
vácuos tônicos de calor.
Vêm de um sotaque perdido
e d’ outro, não aprendido,
Remetem-me a purgatórios
de amor roto, partido
que, em falha de repertório,
morreu sem sequer ter nascido.
Elane Tomich
sábado, 16 de julho de 2011
Invictus
Do fundo desta noite que persiste,
A me envolver em breu-eterno e espesso,
A qualquer deus - se algum acaso existe,
Por minha alma insubjugável agradeço.
Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei - e ainda trago
Minha cabeça - embora em sangue - ereta.
Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa,
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.
Por ser estreita a senda - eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.
William E. Henley
quarta-feira, 13 de julho de 2011
As Sem - Razões do Amor
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.
Amor é dado de graça
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
Não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.
Carlos Drummond de Andrade
domingo, 10 de julho de 2011
Perfeição
O chato de ser homem
É não poder falar de amor
É não poder contar a dor
Sem que por fraco o tomem
O chato de ser homem
É ter que chorar escondido
É ter que adorar contido
Já que os machos só comem
O chato de ser homem
É fingir-se de valente
É abrir garrafa no dente
Quando os abridores somem
Janes
quarta-feira, 6 de julho de 2011
Feliz - IDADE
Caminhe em frente
Com SerenIDADE,
Permaneça sempre
Com IntegrIDADE,
Com IntegrIDADE,
Domine o mundo
Com VoracIDADE,
Com VoracIDADE,
Transforme tudo
Em Sua RealIDADE.
Em Sua RealIDADE.
Não se detenha
Em EspecificIDADE;
Pois ela engana
Sua CapacIDADE,
Sua CapacIDADE,
De sentir as coisas
Na TotalIDADE,
Na TotalIDADE,
Assim atrasando
Sua FelicIDADE.
Sua FelicIDADE.
Não se iluda
Com a MaturIDADE,
Pratique tudo
Com SincerIDADE,
Deixe que flua
Sua SensibilIDADE,
Mantenha enfim
Sua DignIDADE.
CãRiùá -TaTaRaNa.
Este poema foi feito pelo meu amigo
Cariuá por ocasião de meu aniversário
ontem!
Obrigada amigo!!!
Cariuá por ocasião de meu aniversário
ontem!
Obrigada amigo!!!
domingo, 3 de julho de 2011
Antes do Nome
Não me importa a palavra, esta corriqueira.
Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe,
os sítios escuros onde nasce o "de", o "aliás",
o "o", o "porém" e o "que", esta incompreensível
muleta que me apóia.
Quem entender a linguagem entende Deus
cujo Filho é Verbo. Morre quem entender.
A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,
foi inventada para ser calada.
Em momentos de graça, infreqüentíssimos,
se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.
Puro susto e terror.
( Adélia Prado)
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